Desde que
plantamos algumas sementes no jardim da nossa casa, em Southampton, tenho por
hábito visitá-lo todas as manhãs e, quando possível, também à tarde. Não tenho
palavras para descrever a emoção que senti ao ver os primeiros brotos surgindo
da terra escura. Talvez se aproxime à emoção daquela criança que, pela primeira
vez, viu eclodir folhas verdinhas do grão de feijão embebido do algodão
molhado. A vida é sempre um milagre, não importa se tenha por berço um copinho
de plástico sobre a bancada da cozinha, ou a sofisticada incubadora materna que
a gente conhece por útero.
Voltando ao
nosso jardim, garanto-lhes que não foi trabalho fácil embutir as sementes na
terra. Foi preciso muito esforço para abrir espaços entre as raízes
subterrâneas das plantas forrageiras, que tornavam o ambiente hostil ao
nascimento de flores delicadas, tais como aquelas que desejávamos ver florescer
durante o verão. Lançamos as sementes, na incerteza. Cobrimo-las com o
fortificante, na esperança. Pouco mais de duas semanas foi o tempo necessário
para que as plantas jovens apontassem, fazendo valer nossa dedicação ao
canteiro.
E cada vez que sou
acometida pela expectativa e desejo imediato de ver nossas “filhas” crescendo
no berçário dos fundos, cheirando a mato, medito na satisfação do
Jardineiro ao plantar vida dentro do coração humano, e vê-la suscitar, a princípio
tão frágil, no solo outrora estéril. Paciencioso, Ele rega os brotos novos e acompanha as folhas se desdobrando do projeto de caule, até que surjam as primeiras gemas axilares. Por fim verá o fruto de seu árduo trabalho, e se alegrará nele.
Aguardo pelo dia em que as
flores darão o ar da sua graça no nosso jardim de aluguel. Há de ser uma data memorável para nós. Por
hora, já entendi que nenhum jardim entra na vida da gente por acaso.