quinta-feira, 10 de julho de 2014

As rosas bivitelinas do jardim



                Essa foi a primeira vez em que vi surgir, no mesmo ramo, uma rosa amarela e uma rosa vermelha. Porque não as duas vermelhas ou as duas amarelas, nem a natureza explicaria sem alguns tropeços nos entraves genéticos. O fato é que não encontro a mais bela entre elas, muito menos qual seja mais flor comparada à outra. Uma vez que sejam tão diferentes, tornam-se mais interessantes. Olhando-as, penso: ainda bem que não nasceram iguais.
Também não nascemos iguais, embora sejamos do mesmo ramo chamado humanidade. É impossível eleger características, aptidões e manias, definindo-as como padrão entre a espécie gente. Daí que sofremos quando tentamos nos transformar na flor vermelha, ou na flor amarela, pois se faça saber de uma vez por todas, que o semelhante nunca será igual.
E o fim que damos às nossas peculiaridades pode se agravar em crime contra nós mesmos. É como se, ao caminhar por um jardim, a certa altura nos incomodássemos com as proporções de uma planta que data do prólogo, e resolvêssemos arrancá-la pela raiz, ao invés de podar os excessos que prejudicam a passagem. E depois que a planta é removida, resta um buraco repleto do nosso vazio. Amputamos uma parte de nós e perdemos a digital, justamente o que depõe pela nossa individualidade, enquanto poderíamos simplesmente aparar arestas e corrigir falhas. 
Aceitar-se, para essa flor aqui, alinha-se ao exercício diário de lidar com cada uma das limitações pessoais e, ciente da fragilidade de uma auto-ajuda, usufruir da misericórdia e graça de uma ajuda do Alto. Afinal há quem saiba, sem entraves genéticos, os porquês que envolvem a rosa vermelha e a rosa amarela naquele mesmo ramo. Por certo Ele não se encontra tão longe que não possa ser encontrado por um coração sedento por descobrir-se Nele.

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