Essa foi a primeira vez em que vi surgir, no mesmo ramo, uma rosa amarela
e uma rosa vermelha. Porque não as duas vermelhas ou as duas amarelas, nem a
natureza explicaria sem alguns tropeços nos entraves genéticos. O fato é que
não encontro a mais bela entre elas, muito menos qual seja mais flor comparada
à outra. Uma vez que sejam tão diferentes, tornam-se mais interessantes. Olhando-as,
penso: ainda bem que não nasceram iguais.
Também não nascemos iguais, embora sejamos do mesmo ramo chamado humanidade.
É impossível eleger características, aptidões e manias, definindo-as como padrão entre a espécie
gente. Daí que sofremos quando tentamos nos transformar na flor vermelha, ou
na flor amarela, pois se faça saber de uma vez por todas, que o semelhante
nunca será igual.
E o fim que damos às nossas peculiaridades pode se agravar em crime contra
nós mesmos. É como se, ao caminhar por um jardim, a certa altura nos
incomodássemos com as proporções de uma planta que data do prólogo, e
resolvêssemos arrancá-la pela raiz, ao invés de podar os excessos que
prejudicam a passagem. E depois que a planta é removida, resta um buraco
repleto do nosso vazio. Amputamos uma parte de nós e perdemos a digital, justamente o que depõe pela nossa individualidade, enquanto poderíamos
simplesmente aparar arestas e corrigir falhas.
Aceitar-se, para essa flor aqui, alinha-se ao exercício diário de lidar
com cada uma das limitações pessoais e, ciente da fragilidade de uma auto-ajuda,
usufruir da misericórdia e graça de uma ajuda do Alto. Afinal há quem saiba,
sem entraves genéticos, os porquês que envolvem a rosa vermelha e a rosa
amarela naquele mesmo ramo. Por certo Ele não se encontra tão longe que não
possa ser encontrado por um coração sedento por descobrir-se Nele.
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